A elegância e o peido

De longa data sou avesso ao conceito de elegância. É inacreditável ver o valor que se dá a esta besteira.

Parecem bonecos de porcelana intocáveis. Na verdade não presta para nada porque esta mesma elegância é tão frágil que pode ser destruída por uma rajada de vento, um simples movimento da perna errado ou uma encostada na parede. Detalhes bestas arrasam rapidamente esta frágil fantasia.

Tem uma experiência que gosto de fazer e que nos traz de volta imediatamente a realidade dos fatos quando nos encontramos perante alguém muito bem vestido: Imagine um executivo em seu terno Armani com aquele “LOOK” arrasador. Ora, sabemos muito bem que este indivíduo como ser humano que é, peida. Imagine que debaixo daquela calça bonita e cara, ele peida! Vejamos os detalhes: o peido sai de dentro dele e cheira mal. Tão mal quanto o de qualquer um. E o peido sai igualzinho, e o cheiro é igual ou pior. O que pode ser mais deselegante que isso ? Então veja só, o peido se torna um fator de desmistificação da elegância da pessoa em questão. Porque afinal não há nada mais antigo, medieval e deselegante que um peido, não é mesmo ?

Independentemente de experiências humorísticas, elegância foi criada para que pessoas se mostrassem superiores aos outros. Mais modernos, mais sofisticados, mais ricos. Foi criada para mascarar a necessidade de se sobressair intelectualmente. Por exemplo, em quem você confia mais pra uma tarefa específica ? Naquele executivo de paletó ou num punk ? (eu com certeza confio mais no punk de longe). Mas o certo mesmo é que devíamos confiar era em quem estivesse mais preparado intelectualmente, e não em quem estivesse melhor vestido. Porque afinal, o que é necessário para uma tarefa é conhecimento técnico e não elegância.

Algumas tarefas necessitam de elegância. Mas isso se deve unicamente ao fato de toda sociedade estar tomada pela bendita fantasia que a roupa faz o homem. E é exatamente o contrário. Acredito ao contrário que quem se veste bem demais pretende justamente ocultar o seu lado ruim com roupas belas que denotam “uma certa nobreza”.

Elegância em exagero atrapalha o trabalho ao invés de ajudar. Você está sempre preocupado em não se sujar, não manchar a roupa. Enfim, está preso. Preso aos outros. Preso a agradar os outros.

Você se veste bem pra se sentir bonita ? Porquê ? Se nua você é feia não vai ficar bonita de jeito nenhum. Pode ficar mais ridícula se pintando. Mas jamais vai ter a beleza radiante de uma menina que é linda sem qualquer produção ou maquiagem.

Quem é belo, não necessita de nenhuma produção para ser absolutamente arrasador. E quem tenta se comparar a isso com maquiagem, só fica artificial, e muitas vezes ridícula.

Quando vejo pessoas jovens absolutamente produzidas me afasto naturalmente. Vejo-as como pessoas que perdem suas juventudes dando valor a status e desfiles que os fazem absolutamente pequenos. Vejo que não se preocupam com questões maiores e estão tão absolutamente ligados á sua pequena vaidade, que normalmente só compram infelicidades para suas vidas. Vejo a elegância, como algo ultrapassado, provinciano (tipo roupa de domingo), como fantasia que dura breves momentos, como um fator que nos afasta de nós mesmos, como algo que tenta esconder aspectos ruins de nossa personalidade, como um fator que gera pobreza porque pessoas são colocadas de lado por preconceitos contra seu jeito de vestir. Vejo a elegância como coisa de quem não aprendeu nada na vida e com a vida. Vejo como algo que não deveria nem existir. Porque afinal uma hora você vai estar bem vestido e vai peidar, lembra ?

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