Interesse

O conceito de interesse envolvendo todas as relações humanas me parece originar de uma perspectiva pessoal ruim. Parece-me que quando alguém faz mau juízo de seu interior tende a espelhar isso em outras pessoas. Mau juízo que se cria por nossos maus costumes modernos.
Sempre defendi a idéia de que existem atitudes completamente desinteressadas. O argumento contrário a esta idéia diz que, mesmo que esta atitude seja aparentemente desinteressada, ainda assim esperamos benefícios, às vezes metafísicos, às vezes recompensas póstumas, ou relacionadas a obtermos um contentamento interno. Todas formas mais ou menos diretas de interesse.
A chave para a análise destes comportamentos me parece ser se o pensamento a respeito da recompensa veio antes ou depois da atitude em si, ou seja, se a atitude provém do pensamento na recompensa, ou se o pensamento da recompensa veio como uma consequência da atitude depois de realizada.
E de onde provém a atitude se não de um interesse ?

Devido à vida cada vez mais voltada ao lado material, parece que nos esquecemos do sentimento natural do gostar de outros seres humanos. Gostar naturalmente, sem precisar de nada deles. O fato é que nossa vida excessivamente agitada, nos leva a pensar nas nossas necessidades imediatas, em resolver os problemas, depois outros problemas, depois problemas dos outros, e como este processo cria em nós necessidades contínuas e crescentes, cria-se uma cultura que vem do berço de satisfação das necessidades, e com isso a busca de soluções para atendê-las.

Ao entrarmos nesse ciclo vicioso, nossas amizades e relações pessoais em geral sempre buscam resolver alguma necessidade específica, financeira, moral, pessoal e outras.

Assim acabamos nos acostumando com a questão do interesse nas relações. Esquecemo-nos do tempo em que olhavamos para as pessoas sem querer nada delas, mas com a curiosidade natural de criança que olha para alguém e fala, brinca, interage sem qualquer interesse. Acabamos hipocritamente unindo necessides com emoções, muitas vezes inventadas, ou às vezes até enganando a nós mesmos que realmente queremos aquilo para atender uma necessidade que, devido ao costume, se tornou quase inconsciente.

Perceber que além de relações de interesse, pode e deve existir um gostar legítimo, primário, puro, está se tornando cada vez mais raro. Mas ainda hoje podemos encontrar quem o defenda ardorosamente. Senão vejamos: fala-se tanto que o dinheiro move o mundo. Mas o que realmente move o mundo são as relações de afeto entre as pessoas. Como ficaria o mercado imobiliário se as pessoas não mais casassem ? E o mercado de entretenimento sem crianças ? E porque temos crianças, se elas são financeiramente o pior investimento que podemos fazer ?
Só me resta concluir que é por causa daquela velha palavrinha. Aquela que é careta, antiquada, fora-de-moda e até nos parece meio idiota de pronunciar. Preciso dizer qual é ?

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