Máquinas!

Vivemos rodeados de máquinas! Eu gosto muito delas apesar dos esforços que certas, digo, certa corporação faz, para que nosso relacionamento com elas fique cada vez pior.
Elas são vistas na maioria das vezes como frias, algo como a materialização do mal. Um negócio meio sem alma. Juro que queria ver alguém tentando argumentar a favor desse ponto pilotando uma boa Harley-Davidson.
Não me lembro quantos debates em mesa de bar já tive, tentando argumentar a favor de que pode e seria bom que existisse uma máquina igual a um ser humano, que fosse impossível de destinguir por outro ser humano sem um exame técnico detalhado.
Aqui no quase papel da tela do meu monitor, meus leitores nada podem fazer para deter minha metralhante dialética, e portanto vou abusar um pouquinho da minha posição favorável. Tentarei mostrar porque isso é viável e útil.
Quanto á viabilidade, temos que estabelecer alguns conceitos computacionais para que o leitor médio possa se sintonizar: Um sistema computacional para resolver um problema qualquer, digamos um controle de estoque, é constituído basicamente por três partes: armazenamento, transferência e processamento de dados. No exemplo referido, os dados são transferidos do meio físico (usuário ou materiais em si) para um meio eletrônico de armazenamento qualquer, são enviados da matriz à filial, do supervisor ao gerente, á impressora para emissão de relatórios, e valores são calculados, formatados para apresentação entre outros. Armazenamento, transferência e processamento sempre.
Simular um sistema tão complexo como um ser humano seria realmente uma tarefa monumental.
Antes de qualquer coisa os materiais que simulariam as várias funções são talvez a parte mais difícil de simular.
Mas entretanto ninguém pode dizer que uma pessoa com mutilações cutâneas deixe de ser um ser humano, portanto esquecendo os detalhes estéticos por um momento consideremos o que sobra.
Quando ao físico somos basicamente uma estrutura óssea, tecidos, músculos ligados a um sistema nervoso e um cérebro para coordenar tudo isso.
Vamos mudar os nomes.
Quanto ao físico somos basicamente uma estrutura de titânio, tecidos, músculos artificiais (já foram desenvolvidos) ligados a um sistema de fibra ótica e um processador central com um enorme banco de dados para coordenar tudo isso.
– “Ah mas jamais uma máquina vai conseguir chegar á perfeição do ser humano”.
Caramba! Nem minha posição previlegiada me impediu de que eu ouvisse isso que você leitor acabou de dizer!
Talvez não. Mas vejamos. Seu corpo, caro leitor, permite uma variedade quase infinita de posições, expressões, pequenos gestos, formas de olhar, etc. É capaz de gerar emoções das mais distintas. É uma máquina maravilhosa. Uma verdadeira obra de arte. Mas é exatamente nessa definição quer repousa a possibilidade de reproduzi-la.
O número de posições, expressões, emoções, etc é quase infinito, em outras palavras finito. Isso abre a possibilidade de ser colocado em um banco de dados de tamanho quase inimaginável. Isto feito, a viabilidade de nosso ser humano artificial dependeria apenas de capacidade de armazenamento, velocidade de processamento e velocidade de transmissão de dados.
Vamos dar alguns exemplos: quando às posições que um corpo humano pode assumir. Suponhamos que se criasse uma estrutura com a mesma aparência de um ser humano que fosse capaz de mover suas articulações em intervalos de 1/10 de grau. Isso significaria que este andróide seria capaz de reproduzir com fidelidade 900 posições do braço desde esticado até levantado em 90o. Seu braço pode fazer isso ? Esse estrutura de um andróide não existe ainda. Mas pode ser fabricado em um futuro próximo.
No caso de expressões do rosto. Cada expressão representa o movimento conjunto de vários músculos. Quantas combinações podemos ter de movimentos musculares ? centenas de bilhões, possivelmente mais que isso. Esse número é portanto finito. Se for construído um rosto com a totalidade (quem sabe até um número maior de músculos) e houver uma capacidade de dar ordens de movimento combinadas a ele, podemos simular qualquer expressão humana.
Sensações e emoções, neste caso estas se traduzem por reações musculares, e ações. O que nos leva aos casos acima. Lembrando sempre que estamos tentando mostrar a viabilidade da simulação de um ser humano e não a possibilidade de fazer um ser humano no total sentido da palavra.
Reações. Um ser humano reage das formas mais diferentes a estímulos externos. De novo esse número é finito, mesmo para um ser humano. Ainda que supuséssemos incluir nessa discussão os indivíduos considerados mentalmente enfermos quantas reações podemos ter para um evento específico ? supondo que digamos “bom dia” a alguém, quantas reações podemos ter ? A reação “virar de ponta cabeça e começar a dar murros no chão” é possível ? É sim! Seria mais um dos dados do nosso banco. Mas sinceramente não é muito útil incluí-la no banco. Seria muito melhor limitar os dados a reações “adequadas” a um comportamento “são”. Isso tornaria nossa simulação mais aceitável e útil.
Muito bem, então vai ser possível ter uma máquina que faz todos os movimentos do corpo humano, tem tecidos que deixam sua aparência igual a um ser humano, simula todas as expressões humanas, todos os movimentos e ações que um ser humano pode fazer e muitos que um ser humano não consegue. Agora é momento de iniciar a discussão mais importante!
Alguém vai dizer: “Mas continua sendo uma máquina! É vazio. Não tem alma.”
Realmente é. Mas também não é pra ter. O problema é que por razões culturais e religiosas algo parecido com um ser humano que não tenha alma é “meio demoníaco”, assustador.
Se nos livrarmos um pouco desses preconceitos, podemos enxergar que tal máquina pode ser muito útil. Pode cumprir funções e tomar decisões baseados nos critérios que quisermos impor a elas. Seriam os melhores mineiros de carvão do mundo, os melhores empregados em profissões perigosas. Vale todo o esforço, livrariam o ser humano de funções repetitivas, perigosas e/ou indignas de serem realizadas por um ser humano de verdade.
Um único ser humano é capaz de mudar o mundo! Vários já o fizeram. Um ser humano tem a capacidade de criar e evoluir. E no entanto temos tantos milhões e milhões vivendo vidas miseráveis. E não sendo nada além de mais um animal neste planeta.
Mas existe uma discussão maior que essa: Para mim um ser humano é capaz de ser mau. Essa máquina não seria, desde que programada adequadamente seguindo as três leis da robótica* de Isaac Asimov. Algumas religiões acreditam que pessoas com comportamentos muito cruéis não são dotadas de alma. Neste caso elas ainda são seres humanos ? Qual seria mais humano, o andróide que proponho, ou um serial killer canibal ? O QUE É UM SER HUMANO ?
A partir do momento que essas classe de máquinas evoluir a um ponto, onde simulem com absoluta fidelidade um ser humano, onde cuidem do ser humano, e convivam harmoniosamente, como podemos provar que a mesma força que coloca a alma em uma máquina imperfeita como somos nós não possa usar máquinas mais perfeitas como habitáculos para almas ?
Estaríamos brincando de Deus ? desrespeitando-O ? será que a vontade de Deus não é justamente que busquemos a evolução ? Passei dos limites caro leitor ?
O que sei é que o futuro me parece muito interessante e não assustador.

*Isaac Asimov em sua série de livros sobre os robôs definiu as três leis da robótica da seguinte forma:
1a.Lei: Um robô não deve fazer mal a um ser humano, ou por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2a.Lei: Um robô deve obedecer a um ser humano, a menos que isso interfira com a 1a. Lei.
3a. Lei: Um robô deve buscar sua sobrevivência desde que isso não interfira com a 1a e a 2a Leis.

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