O brilhantismo de Cisne Negro

Ontem alguns colegas de trabalho estavam falando sobre o filme Cisne Negro. A maioria das opiniões o classificavam como chato. Eu o achei excepcional e um dos meus colegas, conhecendo minhas opiniões costumeiramente divergentes, parou e disse:
-“Pois me explica aí porque o filme é tão excepcional ? Mas você tem 2 minutos pra explicar”.
Disse a ele que em 2 minutos era impossível de explicar. Mas tive a ideia de fazer esse texto tentando explicar minha visão sobre isso e ele prometeu ler. Espero que ele e meus leitores gostem da explicação.
2 minutos não bastam para explicar, porque para entendermos a beleza e brilhantismo do Cisne Negro precisamos ter uma atitude em relação à vida, ao que nos aproximamos, ao que gostamos e ao que consumimos, voltada para a evolução e para a qualidade.
Para entender porque essa atitude é importante e não só mais uma forma de viver a vida é que é o demorado.
Pra começar a responder essa pergunta, precisamos pensar primeiro em uma das mais básicas (e genéricas) questões filosóficas: qual o sentido da vida ?
Quando começamos a pensar sobre isso, imediatamente vêm outras questões:
-Porquê e para quê estamos vivos ?
-Somos obra do acaso ?
-Existe um propósito maior no final ?
Entre muitas outras perguntas que podem ser feitas dentro desse tema.
Essa é claro é uma “pergunta sem resposta”. Ao menos no atual estágio de pensamento humano. Até podemos ter opiniões a respeito de sua resposta. Mas, ao menos para um ser humano normal, a resposta “real e final” é dificilmente alcançável.
A única coisa que podemos fazer a respeito dela é ir ampliando nosso nível de conhecimento e consciência, para irmos galgando degraus mais altos que quem sabe permitam dar a base para chegarmos mais perto de uma resposta.
Assim é com várias outras questões que acompanham o ser humano desde que ele passou a existir.
Por isso a meu ver a única resposta que se pode dar a essa pergunta por enquanto, é que o sentido da vida é a evolução. Evolução que nos permita chegar mais pra frente, em conhecimento, consciência, sentimento, realizações.
Mas obviamente muitos de nós temos visões diferentes. Muitos simplesmente não pensam em questões como essa. Isso não lhes preocupa. Claro que não posso entrar na mente destas pessoas e por isso não posso entender as reais razões por que não consideram importante pensar nisso. Só posso especular e especulo que seja porque se acostumaram com o mundo ao redor e procuram somente aproveitá-lo e fazer o que puderem para ter um mundo um pouco melhor pra si.
Sem saber, quem tem esta atitude em relação ao mundo pratica o que se chama de hedonismo, ou seja, acha que o sentido da vida é o prazer. Não vejamos aqui uma conotação sexual e sim o prazer no sentido de ter uma vida mais prazerosa, mais confortável, menos sofrida.
Penso entretanto que este é um estágio de pensamento não amadurecido, porque quando seguimos um pouco adiante neste caminho vemos que para que possamos chegar a essa vida mais confortável, melhor, mais prazerosa, dependemos do outro. Dependemos que nossa família e amigos estejam bem, dependemos que nossa cidade não seja violenta, dependemos que nossos governantes façam boas escolhas que permitam que vivamos melhor, dependemos que a infra-estrutura necessária ao nosso conforto seja mantida, muitas vezes por pessoas que nunca veremos, dependemos que nossa diversão seja garantida por outras tantas pessoas. Em resumo: para sermos felizes dependemos da humanidade.
Seguindo mais adiante nesse raciocínio, percebemos que para que estas pessoas possam prover a infra-estrutura que nos é necessária, precisam elas mesmas também ter vidas adequadas, dignas, que permitam que elas façam seu trabalho adequadamente e vivam elas mesmo também felizes.
Por isso mesmo que sejamos da turma que não está preocupada com as grandes questões, ainda assim, precisamos criar consciência do outro, do mundo, da sociedade, do todo, para que possamos atingir nossa meta de buscar uma vida melhor.
E ao pensar em como fazer isso, como buscar um mundo melhor pra todos de forma a que nós também possamos ser felizes, chegamos nas grandes questões.
E depois que pensamos mais sobre elas, entendemos que o que podemos fazer é muito pouco, mas que é fazendo a nossa parte, que influenciamos outros a fazerem a deles e aos poucos vamos transformando a esse planeta em alguma coisa melhor.
E qual a nossa parte ? Nossa parte é criar consciência, conhecimento, cultura. Rechaçar o negativo, o atrasado, o alienante, o ignorante e incentivar o que é positivo, evolucionário, intelectual, com mais qualidade e nos traga novas visões, novos pensamentos, algo que nos faça questionar nossos próprios valores e nos tire da estagnação.
Tá e o que tudo isso tem a ver com Cisne Negro ? TUDO!
Começa pela tomada de câmera, “pulando” atrás da personagem, dando “saltos” durante a cena de dança, o que, ao menos a mim, fez sentir que estava dançando junto com personagem, passa pela ideia original do roteiro, muito pouco convencional, passa pela história bela e humana que nos faz refletir sobre nossos próprios pensamentos, passa pelo objetivo de ir além, de progredir e chegar ao limiar da perfeição fazendo disso o objetivo máximo pelo qual devemos preserverar até alcançar, passa por nos trazer a consciência da dificuldade desse processo e do aviso de que nosso lado negro está próximo e muitas vezes atua de formas que jamais esperaríamos, passa por absoluta engenhosidade da trama nos surpreendendo a cada instante, nos fazendo dar “pulos” na cadeira e jamais permitindo que imaginemos o que vem a seguir. Isso nos traz perspectivas diferentes, nos tira da mesmice e da nossa zona de conforto nos dando um empurrão pra frente para imaginarmos novos pensamentos, novas formas de fazer as coisas, novas forma de enxergar a vida.
O que ganhamos com um filme comum ? Estagnação. Nenhuma novidade. Diversão que nos mantém no mesmo lugar que estavamos antes, com a mente do mesmo tamanho de antes. Desperdício de tempo e da oportunidade sempre constante de evolução e de progresso, além do incentivo ao atraso em todos os níveis que no final contraria o sentido evolucionário ao qual todos estamos inexoravelmente submetidos tendo ou não consciência disso.
Avançar o pensamento, avançar nossa cultura, avançar nossa forma de sentir, experimentar coisas que nunca tentamos é o caminho pelo qual todos sempre seguiremos e do qual não há escapatória. Quanto antes tomarmos consciência que a zona de conforto jamais prevalecerá, menos sofrimento geramos pra nós e pro mundo. Quanto mais rápido percebemos a necessidade de evolução, mais rápido começaremos a gostar de obras primas que mexem connosco como o Cisne Negro.

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