Serenidade

Às vezes fico pensando nas fortes emoções que alguns esportes radicais provocam. Eu entendo bem essa sensação, era ela que me levava a buscar mais e mais emoções intensas. Quem tem essa sensação dentro de si busca a intensidade do momento. Busca fazer algo acessível a muito poucos seres humanos. Expandir os limites da capacidade humana. Ou ao menos é isso que ele(eu) diz(ia) a si(mim) mesmo.
Até hj eu acharia legal voltar a saltar de pára-quedas ou passar raspando na beira de uma montanha a 200 km/h num desses novos wingsuits, ou entrar pro clube dos 300km/h. Ou viajar pelo mundo em lugares extremos.
Fico pensando… é útil essa vontade ? de superar limites físicos ? de experimentar o que poucos experimentam ?
O que eu ganhei com muitas emoções intensas, muitas aventuras, viagens e outras coisas como essas ?
Bem eu…
Aprendi a pensar e reagir rápido.
Aprendi a ser duro, a não me importar com condições ruins, aprender a suportar condições adversas por longos períodos de tempo.
Aprendi que quando estamos na frente temos que manter a velocidade ou quem está atrás logo nos alcança.
Aprendi que o custo de errar é o chão. E apesar de saber disso, simbólicamente fui pro chão da vida várias vezes.
Aprendi que precisamos pensar antes o que pode acontecer e estar atento pras distrações do outro pq elas podem custar a vida.
Aprendi que se a pessoa não se prevenir, pode acordar no céu rapidinho (se tiver sorte).
Ganhei um vício por experiências/sensações/emoções extremas do qual é difícil se libertar. Não se contentar com nada que não seja extremamente intenso e achar o mundo chato por causa disso, o que impede a paz, pq pra haver paz há a necessidade de serenidade.
Ganhei um saco bem cheio por qualquer tipo de “competição” e a compreensão de que cooperar é bem melhor que competir.
Então por todas essas coisas, ainda é útil esse sentimento de “ir além” ?
Se examinarmos bem, o que está por trás desse sentimento ? poderá ser o orgulho de querer ser melhor e mais capaz do que o outro ? Se analisarmos ainda mais será que chegaremos a ver que isso é uma defesa por se sentir pouco respeitado pelos outros ?
A humanidade avança por alguém conseguir dar 3 giros no ar com uma moto ? ou por se conseguir uma cesta de 3 pontos de costas ? ou por saltar de um penhasco com um páraquedas ?
Às vezes eu acho que sim. Às vezes eu acho que não.
Os motivos para o “sim” são dar ao ser humano a prova de que nada é impossível a ele. Inspirar a fazer mais e mais. Evoluir a ele e aos limites da humanidade com ele. O custo é a perda de vidas e várias vidas mutiladas.
Os motivos para o “não” são se aproximar de seu irmão e evoluir mais devagar junto com ele. O custo são vidas monótonas e sem sentido para todos aqueles para os quais a intensidade é o que inspira suas vidas.
Talvez seja melhor o caminho do meio. Do equilíbrio. Viver vidas pacíficas e calmas com “pitadas” de aventura, para expandirmos nossas mentes mais devagarinho.
Talvez todas as opções estejam certas. Pode ser que para os que têm essa necessidade de intensidade, eles precisem vivê-la e colher as conseqüências para assim aprenderem a ir para mais perto de seus irmãos mais calmos. E os mais calmos precisem viver vidas monótonas para ficar de saco cheio suficente para que queiram viver a vida com intensidade, para depois aprender mais e retornar à calma mais pra frente, mais experientes, mais vividos e com uma serenidade mais verdadeira.
Quando penso assim sinto uma verdadeira serenidade. Que tudo está certo e caminha para a evolução. Que cada coisa tem seu lugar, intensidade, serenidade, calma e monotonia (ou devo dizer paciência ?).
Sim… mas e qual é a MINHA resposta ? Não tenho certeza. Acho que o objetivo deste texto não era desde o início dar certeza e sim promover a reflexão.
Cada um que chegue à sua própria serenidade.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *