Índigo, Cristal, X Y Z e tal

Toda geração tem suas críticas à anterior. E seus jeitos peculiares de rotulá-la. E toda geração anterior sempre acha meio estranho alguns “jeitos novos” e “rótulos novos” trazidos pela novas gerações. Eu também tive minha parte de rótulos e críticas às gerações anteriores à minha. Naquela época chamávamos de careta, antiquado, algo assim. E obviamente minha geração também deveria parecer bem estranha pra quem veio antes. Afinal de contas a minha pré-adolescência foi no auge dos movimentos Dark, Punk, Gótico e coisas assim. Lembro bem de pessoas naquela época dançando como se fosse Tai-Chi-Chuan ao som dos Joy Division da vida. Esse conceitos depressivos e desesperançosos daquela época à lá Sisters of Mercy, deveriam parecer bem estranhos. As capas dos discos do Iron também.
E agora também chega a minha vez de ver conceitos que soam estranhos para mim serem utilizados pelas novas gerações. Sendo assim resolvi falar a respeito de alguns rótulos novos que me parecem muito estranhos.

Primeiro as tais crianças “Índigo” e “cristal”. Que conceito bizarro. Em todas as épocas desde a mais remota antiguidade sempre houveram pessoas que se destacaram por sua compreensão e capacidade. Sócrates, Aristóteles, Akenaton, Sidarta, Da Vinci, Nietzsche… a lista é interminável.
E agora quer-se rotular crianças pelo simples fato de estarem em uma compreensão acima da média, ou na verdade, especialmente acima da compreensão de seus pais. Isso é um equivoco claro. Um equivoco nocivo e injusto em especial com as próprias crianças que terão depois que corresponder a essas altas expectativas que se coloca nelas desde o berço. E é um peso grande.
Por parte dos pais é triste vê-los colocar-se nessa situação. A imagem que passa é que estão querendo colocar nas costas dos filhos as suas frustrações e insucessos. Veja, nós não nos destacamos, mas meu filho é Índigo. Triste. É uma posição lamentável para se colocar.
E alimenta também algumas coisas muito ruins. Primeiro o orgulho de querer “ser especial” ao invés de ter consciência da igualdade entre todos os seres humanos. Mesmo que seu filho seja melhor nisto ou naquilo ele sempre será menos capacitado em alguma outra área. Sempre haverá alguém melhor que seu filho em alguma coisa (leia meu texto Eu sou melhor que você). E isso alimenta na pessoa a fantasia de que ele(a) tem algum merecimento especial (se achar melhor que o outro) simplesmente por ser você mesmo. Isso é só uma fantasia.
Mas eu também entendo que nossos filhos são muito especiais pra nós e tendemos naturalmente a querer colocá-los em alta consideração. Mas veja, eles terão que enfrentar o mundo algum dia. Nesse dia tudo que eles não precisam é se achar dignos de algum “merecimento especial”. Precisam aprender a trabalhar duro e se esforçar, moldando assim seu caráter.
Então não diga que seu filho é “Índigo” ou “Cristal”. Diga a realidade. Seu filho é um espírito em evolução como todos nós. Com muitas coisas a melhorar e muito a contribuir. Se ele já vai bem em algumas áreas, apoie, examine bem e o auxilie a melhorar no que ele precisa. Certamente terá muito o que trabalhar.

Aproveitando pra falar também de outro conceito que acho muito estranho. Dessa vez é comigo. É o tal rótulo Geração X, Y, Z. Parece que eu sou da X segundo um colega de trabalho.
Acho muito estranho reduzir toda uma geração, constituída de muitos universos em um período vibrante como os anos 70/80, que gerou tantos movimentos e acontecimentos a uma simples letra. É o cúmulo da simplificação.
Veja a sua época. Olhe ao seu redor. Quanta coisa acontece no mundo. Quantas culturas diferentes existem, quantos movimentos sociais, políticos e culturais. Quantos conflitos. Quantos estilos musicais existem. Acharia justo juntar bilhões de possibilidades e dizer: esse conjunto de bilhões de possibilidades chama-se A. As pessoas que fazem parte do conjunto A agem assim ou assado. Tosco né ? que simplificação grosseira. O mundo e uma determinada época sempre foi acima de tudo plural. Nem todos os rótulos do mundo serviriam para definir uma época e seu pensamento, porque o pensamento, cultura e acontecimentos, são por demais plurais. Volta e meia ouço falar de um movimento cultural da minha época que eu nunca tinha ouvido falar, de um cantor que era super-famoso e eu não conheci. Então como é possível tal redução. De novo essa é um conceito nocivo, porque segrega, separa. É mais um instrumento da velha mania humana de querer nos separar em “eles e nós”. Dica: não existem “eles”. Só tem nós. E pense num nó grande pra desatar é acabar com essa noção e convencer o povo a se unir. Essa é o grande problema desses rótulos. Reforçar a divisão.
Galera mais jovem, da próxima vez que criarem conceitos, criem conceitos unificadores. Já temos divisões demais.

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