Satanás e Deus: alegoria e realidade

Se eu disser que determinada coisa é de Satanás e outra coisa é de Deus, a impressão que passa é que eu estou tendo uma atitude de fanatismo religioso ligada a dogmas atrasados e ignorantes. O caso é que as compreensões humanas são as mais diversas e por isso há necessidade de falar de forma simples para que todos entendam o que estamos querendo dizer. Se falamos usando termos complexos, nem todos entenderão qual é nossa intenção e para estes podemos passar uma impressão pior ainda: a de que estamos querendo enganar. Porém quando se fala da força de Satanás ou de Deus, estamos falando de forças ancestrais, que existem desde o começo dos tempos.
Satanás e Deus, não estão lá em cima ou lá em baixo e sim dentro. Ambos. São aspectos universais que podem, cada um deles, ser fortalecidos pela nossa vontade.
Satanás é a força da individualidade, do poder pessoal, da diminuição da consciência e do fortalecimento da ilusão. Fortalecemos este poder em nós quando impomos nossa vontade sobre a do outro, quando alimentamos nossa revolta, quando diminuímos nossa consciência seja por que meio for.
Deus é a força da coletividade, é a doação de nossa individualidade em função da coletividade, é o poder da União em realizar juntos, é a ampliação da consciência do Universo e da realidade de outro indivíduo. Fortalecemos esta força em nós quando aprendemos a conviver harmoniosamente com nosso semelhante, achando meios de resolver conflitos, quando fortalecemos o amor e a compreensão em nós, quando aumentamos nossa consciência da vida seja por que meio for, quando aprendemos a ser mais responsáveis.
Então quando digo que a raiva é de Satanás, estou dizendo alegoricamente que não devemos impor pela violência nossa vontade para poder conviver bem e fortalecer a união. Quando digo que bebida é de Satanás estou dizendo alegoricamente que ela diminui nossa consciência fortalecendo as ilusões e os defeitos de cada um. Quando digo que mentira é de Satanás estou dizendo que mentira é fortalecer a ilusão no outro, para poder obter vantagem pessoal ao invés de entender que para bem conviver a vantagem tem que ser da coletividade e não do indivíduo.
Quando digo que o perdão é de Deus, digo que estou aprendendo a conviver com outros, seus problemas e defeitos e deixando pra lá o que seria meu interesse. Quando digo que a responsabilidade é de Deus, digo que temos que zelar por todos e não exatamente por nossas vontades. Quando digo que a verdade é de Deus, digo que para que possamos viver em comunidade precisamos ter credibilidade e para isso precisamos de não ter “partes ocultas” ou de enganar ninguém para que possamos ter solidez em nossas palavras e promover a confiança da coletividade.
Jesus é o maior representante de Deus justamente por ter feito o sacrifício maior de doar sua individualidade pela coletividade. Mas estas forças são acima de tudo atitudes, sentimentos. Todos internos a nós e não externos. Alguém um dia já disse a seguinte frase: “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os Deuses”. Isso quer dizer que o Universo é uma versão grande do interior do homem. E o que sentimos e fazemos afeta o todo e o todo afeta a todos. O fortalecimento de uma destas forças não afeta só a nós e sim ao meio em que vivemos. Em resumo: São égregoras.
Égregoras são forças mentais criadas pela força da crença de várias mentes juntas. Quanto mais pessoas acreditarem em algo, mais forte isto se torna, tanto para o mal quanto para o bem.
Usando uma metáfora para ilustrar o que quero dizer, quando fortalecemos uma destas energias em nós, ou um sentimento qualquer que seja, criamos como um “campo de energia” que afeta e influencia os outros. Dependendo do nível de consciência do outro, ele pode ser grandemente afetado sim. Quantas vezes vimos pais tentando guarnecer seus filhos contras as más influências. É um meio natural de preservá-los de problemas. Outro exemplo: quando alguém tenta se livrar de um vício, precisa se afastar das pessoas que têm aquele vício, ou seja, sair da égregora do vício.
Nossas escolhas e nossos sentimentos são portanto de suma importância não só para nós como para todos. Então eu peço: vamos ter cuidado com o que estamos escolhendo para nossa vida. Não é só a nossa vida. É a de todos. Somos todos UM só.

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