Rótulos

Muitas vezes ouço pessoas reclamando a respeito de rótulos. Muitas pessoas não gostam de ser enquadradas neste ou naquele grupo social. Eu nunca tive problemas com a noção de rótulos. Explico:
Quando estamos aprendendo alguma coisa, muitas vezes utilizamos metáforas. Por exemplo: quando uma criança está aprendendo a somar, é comum usar objetos físicos para aprender a contar, quando um professor está dando aula, muitas vezes ele dá um exemplo quotidiano para podermos entender melhor, ou seja, nossa mente compreende por conexões com conhecimento já existente.
Também quando estamos contando a alguém a respeito de uma experiência que tivemos e que a pessoa não conhece, muitas vezes a vemos dizer algo como “ah é mais ou menos como isso ou aquilo”. Ou seja, ela está procurando em sua mente elementos de comparação para poder compreender melhor.
Algo que desconhecemos completamente e que não é parecido com nada que conhecemos é muito mais difícil de compreender.
Então nada mais que natural que, ao conhecermos alguém, procurar enquadrá-lo em um determinado rótulo: sóbrio, ativo, ansioso, doido, bondoso, violento, gay, competente, autoritário, negro, branco, oriental, pardo, atraente, feio. Seja lá o que for.
Acredito que fazemos isso pelo funcionamento normal da nossa mente de buscar conexões com o conteúdo da nossa memória.
Então o problema não são os rótulos. O problema são os juízos de valores de alguns rótulos para algumas pessoas. Não tem problema algum eu rotular alguém como “branco”, “negro”, “doido’ ou “gay”, se o meu juízo de valor dessas palavras for positivo ou pelo menos neutro.
O que tem problema é a gente viver dentro de um conjunto de rótulos limitado, sem querer expandir o conjunto dos rótulos que conhecemos e rechaçarmos qualquer contato com quem se encaixe em rótulos que ainda não conhecemos e por isso os avaliamos negativamente.
Alguns grupos sociais usam palavras negativas para se referir aos seus membros e o juízo de valor destes rótulos é positivo. Me lembro do caso do termo “maluco’ usado por alguns para brincar com amigos que compartilham de um lado alternativo da vida. Para eles esse termo, longe de significar desvio mental, significa viver uma vida livre e boa. Me lembro também de uma entrevista que vi recentemente de uma pessoa que tinha pra si um rótulo pesadíssimo para a maioria de nós (“satanista”) e ela explicava que não acreditava em seres supra-materiais. Esse rótulo era apenas o de uma figura que representa a liberdade e a luta contra a tirania. Ela mesma acredita na compaixão com todas as pessoas por mais diferentes que sejam. Ou seja, olhando de perto, poucas coisas são realmente “malignas”. Quantos “bandidos” foram capazes de gestos muito nobres ?
Por isso se o conjunto de rótulos que conhecermos for suficientemente grande, com certeza fica mais difícil dar uma conotação negativa a um rótulo específico. No momento que passamos a conhecer alguém que se encaixe em um dos rótulos que desconhecemos ou avaliamos como negativos e vivenciamos a realidade daquela pessoa a impressão negativa se dissolve. Na maioria dos casos só existe rótulo negativo se este for desconhecido para nós. Na imensa maioria das vezes o mal é apenas a ignorância a respeito de algo.
Então não nos preocupemos com rótulos e com a rotulação. Procuremos expandir o nosso conhecimento e o dos que nos rodeiam, procuremos ter e compartilhar vivências, experiências, contato com o diferente. Quanto mais rica for nossa existência e a dos que nos rodeiam, menos rótulos negativos existirão.

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