Revolta

Revolta é algo muito perigoso. Ela me parece ser uma armadilha que leva a uma vereda muito muito ruim.
O que me preocupa mais nesse sentimento é muita gente achar que ela é boa. Que é bom se revoltar com o que acontece de ruim. Que assim nos tornamos mais justos, mais “humanos”. Nos compadecemos em ver alguém sofrer e nos revoltamos com que causa isso. Isso nos faz sentir “justos”, “bons”, “melhores” do que quem fez aquele ato. É aí que está a isca da armadilha: um motivo “justo”.
Mas será que nós somos realmente capazes de saber o que realmente é “justo” para alguém ? Muitos estudam muitos anos para poderem exercer a função de “julgar” alguém. E mesmo assim não julgam sozinhos, nem à priori. Porque será que sem qualquer estudo ou fundamento nos sentimos no direito de julgar alguém ?
Mas assim muitos seguem alimentando a revolta contra os males do mundo. E assim seguem alimentando também todos os sentimentos de amargura, desilusão, medo e insegurança.
E quando alguém acha uma situação aparentemente ou realmente injusta, lança sobre a pessoa causadora daquela situação tudo de ruim que acumulou dentro de si. Só que quem pratica um ato ruim, é responsável pelo ato ruim, não pelos males do mundo. Nem é responsável pela revolta que outras pessoas têm dentro de si. Isso é culpa delas mesmas. Ela tem que receber a punição para o ato que cometeu. Mais do que isso vai gerar nela uma justa revolta, que vai alimentar os sentimentos ruins dela e assim criar um novo ciclo vicioso.
Isso gera mais e mais revoltados.
Está sujeito a um dia, quando menos se espera, a pessoa revoltada e que nunca praticou nada de ruim, se encontrar numa situação onde necessitaria de toda a prudência. Mas essa revolta que ela tanto preza, alimenta a raiva, que alimenta a sensação de injustiça, que alimenta o ódio, que gera tragédias. Quando menos ela espera, se torna a causadora da injustiça. Porque o ódio dentro dela é grande demais e a força que ela aplica para resolver uma situação é excessiva. E quando ela vê, toda aquela revolta que ela tinha contra os outros, agora vem dos outros para si. E infelizmente talvez só aí ela perceba o enorme perigo que é ficarmos alimentando os sentimentos ruins, pois acontece que nosso destino é determinado por nossas ações. Nossas ações são determinadas pelo nosso pensamento. Nosso pensamento é ajustado de acordo com nossos sentimentos. Resumindo: quem comanda é sempre o coração. O que a pessoa coloca nele determina seu destino
Os sentimentos ruins que alguém coloca no peito, geram pensamentos ruins e estes ficam na memória. Quando precisamos decidir algo, especialmente se precisarmos decidir rápido, é o conteúdo de nossa memória que decide o que fazer. Se o que estiver lá for só coisa ruim, está muito sujeito a cometermos erros, às vezes grandes.
O melhor é portanto se afastar o mais possível das coisas negativas. Se tomarmos essa decisão, mesmo assim ainda está muito sujeito a elas aparecerem na nossa vida. Que dirá se ficarmos o tempo todo alimentando e nos aproximando do que é negativo.
Alimentar o amor dentro de nós, a compaixão, o entendimento do próximo, a compreensão das diferenças é que é o caminho certo a seguir. Se esforçar para agir com serenidade, prudência, zelo, faz com que nos habituemos a isso e pouco a pouco vamos nos acostumando a não ser tão duros com todo mundo e assim vamos trazendo a paz e a justiça para nós e para os que nos rodeiam.
Como me disse uma vez um bom amigo, nós temos que tratar as pessoas é com amor. Isso inclui quem pratica atos que não são tão bons.
Só assim nós começaremos a construir o que era nossa intenção em primeiro lugar: um mundo sem injustiças.

O brilhantismo de Cisne Negro

Ontem alguns colegas de trabalho estavam falando sobre o filme Cisne Negro. A maioria das opiniões o classificavam como chato. Eu o achei excepcional e um dos meus colegas, conhecendo minhas opiniões costumeiramente divergentes, parou e disse:
-“Pois me explica aí porque o filme é tão excepcional ? Mas você tem 2 minutos pra explicar”.
Disse a ele que em 2 minutos era impossível de explicar. Mas tive a ideia de fazer esse texto tentando explicar minha visão sobre isso e ele prometeu ler. Espero que ele e meus leitores gostem da explicação.
2 minutos não bastam para explicar, porque para entendermos a beleza e brilhantismo do Cisne Negro precisamos ter uma atitude em relação à vida, ao que nos aproximamos, ao que gostamos e ao que consumimos, voltada para a evolução e para a qualidade.
Para entender porque essa atitude é importante e não só mais uma forma de viver a vida é que é o demorado.
Pra começar a responder essa pergunta, precisamos pensar primeiro em uma das mais básicas (e genéricas) questões filosóficas: qual o sentido da vida ?
Quando começamos a pensar sobre isso, imediatamente vêm outras questões:
-Porquê e para quê estamos vivos ?
-Somos obra do acaso ?
-Existe um propósito maior no final ?
Entre muitas outras perguntas que podem ser feitas dentro desse tema.
Essa é claro é uma “pergunta sem resposta”. Ao menos no atual estágio de pensamento humano. Até podemos ter opiniões a respeito de sua resposta. Mas, ao menos para um ser humano normal, a resposta “real e final” é dificilmente alcançável.
A única coisa que podemos fazer a respeito dela é ir ampliando nosso nível de conhecimento e consciência, para irmos galgando degraus mais altos que quem sabe permitam dar a base para chegarmos mais perto de uma resposta.
Assim é com várias outras questões que acompanham o ser humano desde que ele passou a existir.
Por isso a meu ver a única resposta que se pode dar a essa pergunta por enquanto, é que o sentido da vida é a evolução. Evolução que nos permita chegar mais pra frente, em conhecimento, consciência, sentimento, realizações.
Mas obviamente muitos de nós temos visões diferentes. Muitos simplesmente não pensam em questões como essa. Isso não lhes preocupa. Claro que não posso entrar na mente destas pessoas e por isso não posso entender as reais razões por que não consideram importante pensar nisso. Só posso especular e especulo que seja porque se acostumaram com o mundo ao redor e procuram somente aproveitá-lo e fazer o que puderem para ter um mundo um pouco melhor pra si.
Sem saber, quem tem esta atitude em relação ao mundo pratica o que se chama de hedonismo, ou seja, acha que o sentido da vida é o prazer. Não vejamos aqui uma conotação sexual e sim o prazer no sentido de ter uma vida mais prazerosa, mais confortável, menos sofrida.
Penso entretanto que este é um estágio de pensamento não amadurecido, porque quando seguimos um pouco adiante neste caminho vemos que para que possamos chegar a essa vida mais confortável, melhor, mais prazerosa, dependemos do outro. Dependemos que nossa família e amigos estejam bem, dependemos que nossa cidade não seja violenta, dependemos que nossos governantes façam boas escolhas que permitam que vivamos melhor, dependemos que a infra-estrutura necessária ao nosso conforto seja mantida, muitas vezes por pessoas que nunca veremos, dependemos que nossa diversão seja garantida por outras tantas pessoas. Em resumo: para sermos felizes dependemos da humanidade.
Seguindo mais adiante nesse raciocínio, percebemos que para que estas pessoas possam prover a infra-estrutura que nos é necessária, precisam elas mesmas também ter vidas adequadas, dignas, que permitam que elas façam seu trabalho adequadamente e vivam elas mesmo também felizes.
Por isso mesmo que sejamos da turma que não está preocupada com as grandes questões, ainda assim, precisamos criar consciência do outro, do mundo, da sociedade, do todo, para que possamos atingir nossa meta de buscar uma vida melhor.
E ao pensar em como fazer isso, como buscar um mundo melhor pra todos de forma a que nós também possamos ser felizes, chegamos nas grandes questões.
E depois que pensamos mais sobre elas, entendemos que o que podemos fazer é muito pouco, mas que é fazendo a nossa parte, que influenciamos outros a fazerem a deles e aos poucos vamos transformando a esse planeta em alguma coisa melhor.
E qual a nossa parte ? Nossa parte é criar consciência, conhecimento, cultura. Rechaçar o negativo, o atrasado, o alienante, o ignorante e incentivar o que é positivo, evolucionário, intelectual, com mais qualidade e nos traga novas visões, novos pensamentos, algo que nos faça questionar nossos próprios valores e nos tire da estagnação.
Tá e o que tudo isso tem a ver com Cisne Negro ? TUDO!
Começa pela tomada de câmera, “pulando” atrás da personagem, dando “saltos” durante a cena de dança, o que, ao menos a mim, fez sentir que estava dançando junto com personagem, passa pela ideia original do roteiro, muito pouco convencional, passa pela história bela e humana que nos faz refletir sobre nossos próprios pensamentos, passa pelo objetivo de ir além, de progredir e chegar ao limiar da perfeição fazendo disso o objetivo máximo pelo qual devemos preserverar até alcançar, passa por nos trazer a consciência da dificuldade desse processo e do aviso de que nosso lado negro está próximo e muitas vezes atua de formas que jamais esperaríamos, passa por absoluta engenhosidade da trama nos surpreendendo a cada instante, nos fazendo dar “pulos” na cadeira e jamais permitindo que imaginemos o que vem a seguir. Isso nos traz perspectivas diferentes, nos tira da mesmice e da nossa zona de conforto nos dando um empurrão pra frente para imaginarmos novos pensamentos, novas formas de fazer as coisas, novas forma de enxergar a vida.
O que ganhamos com um filme comum ? Estagnação. Nenhuma novidade. Diversão que nos mantém no mesmo lugar que estavamos antes, com a mente do mesmo tamanho de antes. Desperdício de tempo e da oportunidade sempre constante de evolução e de progresso, além do incentivo ao atraso em todos os níveis que no final contraria o sentido evolucionário ao qual todos estamos inexoravelmente submetidos tendo ou não consciência disso.
Avançar o pensamento, avançar nossa cultura, avançar nossa forma de sentir, experimentar coisas que nunca tentamos é o caminho pelo qual todos sempre seguiremos e do qual não há escapatória. Quanto antes tomarmos consciência que a zona de conforto jamais prevalecerá, menos sofrimento geramos pra nós e pro mundo. Quanto mais rápido percebemos a necessidade de evolução, mais rápido começaremos a gostar de obras primas que mexem connosco como o Cisne Negro.

Coerência de idéias

Coerência de idéias, muitas vezes é interpretada como não mudar suas idéas ao longo de sua vida. Isto não é coerência, é teimosia e por isso alguns falam contra a coerência de forma geral. Aí existe uma falácia. Coerência é muito importante. Só que a coerência é do conjunto de idéias atual com a lógica e não com o histórico de ideias de um indivíduo. Mudar é muito importante. Mas quando mudamos, mudamos para um conjunto de ideias mais coerente do que o nosso conjunto de ideias anterior.
Podemos ter 2 atitudes: aceitar o mundo que nos rodeia como ele é ou tentar mudá-lo. Aceitá-lo exige uma mudança e flexibilidade interior, mudá-lo exige uma enorme tenacidade de ideias e vontade.
Ambas as atitudes estão corretas e têm que ser adequadamente dosadas. O mundo tem muitas coisas erradas precisando ser mudadas. Mas nós também não temos um pensamento totalmente coerente. Ele deve ser moldado através da confrontação de nossas ideias com as ideias alheias. Se são ideias opostas, uma das duas é mais correta dentro da lógica. Se a outra ideia for a mais correta, é nossa obrigação mudar nossas próprias ideias e/ou jeito de ser tornando o nosso pensamento mais coerente. Se for a nossa a correta, temos mais um motivo para pensar que estamos corretos e assim fortalecer nosso pensamento. Fica a cabo do outro indivíduo, fazer isso em si mesmo se quiser evoluir.
Para que se chegue a mudar o que há de errado no mundo, há necessidade de indivíduos capaz de realizar tal feito. Por isso a tenacidade de ideias é tão necessária e é através da confrontação de ideias e da disponibilidade dos indivíduos de mudar se confrontados com ideias mais coerentes que as suas que teremos indivíduos capazes disto.
É através de um pensamento firme, coerente, que se mantenha fiel ao que acredita, desde que estes princípios sejam corretos ou seja, validados pela confrontação de ideias (experiência de vida) que se vai melhorando o mundo em paz.

Piadas de negros

Já recebi algumas vezes o email abaixo, com o título “O perigo de mexer com pessoas inteligentes” e texto atribuído ao humorista Danilo Gentil. Acredito que o texto seja realmente de sua autoria.

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O humorista Danilo Gentili postou a seguinte piada no seu twitter:

“King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?”

A ONG Afrobras se posicionou contra: “Nos próximos dias devemos fazer uma carta de repúdio. Estamos avaliando ainda uma representação criminal”, diz José Vicente, presidente da ONG. “Isso foi indevido, inoportuno, de mau gosto e desrespeitoso. Desrespeitou todos os negros brasileiros e também a democracia. Democracia é você agir com responsabilidade” , avalia Vicente.

Alguns minutos após escrever seu primeiro “twitter” sobre King Kong, Gentili tentou se justificar no microblog:

“Alguém pode me dar uma explicação razoável por que posso chamar gay de veado, gordo de baleia, branco de lagartixa, mas nunca um negro de macaco?” (GENIAL) “Na piada do King Kong, não disse a cor do jogador. Disse que a loira saiu com o cara porque é famoso. A cabeça de vocês é que têm preconceito.”

Mas, calma! Essa não foi a tal resposta genial que está no título, e sim ESTA:

“Se você me disser que é da raça negra, preciso dizer que você também é racista, pois, assim como os criadores de cachorros, acredita que somos separados por raças. E se acredita nisso vai ter que confessar que uma raça é melhor ou pior que a outra, pois, se todas as raças são iguais, então a divisão por raça é estúpida e desnecessária. Pra que perder tempo separando algo se no fundo dá tudo no mesmo?

Quem propagou a ideia que “negro” é uma raça foram os escravagistas. Eles usaram isso como desculpa para vender os pretos como escravos: “Podemos tratá-los como animais, afinal eles são de uma outra raça que não é a nossa. Eles são da raça negra”.
Então quando vejo um cara dizendo que tem orgulho de ser da raça negra, eu juro que nem me passa pela cabeça chamá-lo de macaco, MAS SIM DE BURRO.
Falando em burro, cresci ouvindo que eu sou uma girafa. E também cresci chamando um dos meus melhores amigos de elefante. Já ouvi muita gente chamar loira caucasiana de burra, gay de v***** e ruivo de salsicha, que nada mais é do que ser chamado de restos de porco e boi misturados.
Mas se alguém chama um preto de macaco é crucificado. E isso pra mim não faz sentido. Qual o preconceito com o macaco? Imagina no zoológico como o macaco não deve se sentir triste quando ouve os outros animais comentando:
– O macaco é o pior de todos. Quando um humano se xinga de burro ou elefante dão risada. Mas quando xingam de macaco vão presos. Ser macaco é uma coisa terrível. Graças a Deus não somos macacos.
Prefiro ser chamado de macaco a ser chamado de girafa. Peça a um cientista que faça um teste de Q.I. com uma girafa e com um macaco. Veja quem tira a maior nota.
Quando queremos muito ofender e atacar alguém, por motivos desconhecidos, não xingamos diretamente a pessoa, e sim a mãe dela. Posso afirmar aqui então que Darwin foi o maior racista da história por dizer que eu vim do macaco?
Mas o que quero dizer é que na verdade não sei qual o problema em chamar um preto de preto. Esse é o nome da cor não é? Eu sou um ser humano da cor branca. O japonês da cor amarela. O índio da cor vermelha. O africano da cor preta. Se querem igualdade deveriam assumir o termo “preto” pois esse é o nome da cor. Não fica destoante isso: “Branco, Amarelo, Vermelho, Negro”?. O Darth Vader pra mim é negro. Mas o Bill Cosby, Richard Pryor e Eddie Murphy que inspiram meu trabalho, não. Mas se gostam tanto assim do termo negro, ok, eu uso, não vejo problemas. No fim das contas, é só uma palavra. E embora o dicionário seja um dos livros mais vendidos do mundo, penso que palavras não definem muitas coisas e sim atitudes.
Digo isso porque a patrulha do politicamente correto é tão imbecil e superficial que tenho absoluta certeza que serei censurado se um dia escutarem eu dizer: “E aí seu PRETO, senta aqui e toma uma comigo!”. Porém, se eu usar o tom correto e a postura certa ao dizer “Desculpe meu querido, mas já que é um afrodescendente, é melhor evitar sentar aqui. Mas eu arrumo uma outra mesa muito mais bonita pra você!” Sei que receberei elogios dessas mesmas pessoas; afinal eu usei os termos politicamente corretos e não a palavra “preto” ou “macaco”, que são palavras tão horríveis.
Os politicamente corretos acham que são como o Superman, o cara dotado de dons superiores, que vai defender os fracos, oprimidos e impotentes. E acredite: isso é racismo, pois transmite a ideia de superioridade que essas pessoas sentem de si em relação aos seus “defendidos”
Agora peço que não sejam racistas comigo, por favor. Não é só porque eu sou branco que eu escravizei um preto. Eu juro que nunca fiz nada parecido com isso, nem mesmo em pensamento. Não tenham esse preconceito comigo. Na verdade, SOU ÍTALO-DESCENDENTE. ITALIANOS NÃO ESCRAVIZARAM AFRICANOS NO BRASIL. VIERAM PRA CÁ E, ASSIM COMO OS PRETOS, TRABALHARAM NA LAVOURA. A DIFERENÇA É QUE ESCRAVA ISAURA FEZ MAIS SUCESSO QUE TERRA NOSTRA.
Ok. O que acabei de dizer foi uma piada de mau gosto porque eu não disse nela como os pretos sofreram mais que os italianos. Ok. Eu sei que os negros sofreram mais que qualquer raça no Brasil. Foram chicoteados. Torturados. Foi algo tão desumano que só um ser humano seria capaz de fazer igual. Brancos caçaram negros como animais. Mas também os compraram de outros negros. Sim. Ser dono de escravo nunca foi privilégio caucasiano, e sim da sociedade dominante. Na África, uma tribo vencedora escravizava a outra e as vendia para os brancos sujos.
Lembra que eu disse que era ítalo-descendente? Então. Os italianos podem nunca ter escravizados os pretos, mas os romanos escravizaram os judeus. E eles já se vingaram de mim com juros e correção monetária, pois já fui escravo durante anos de um carnê das Casas Bahia.
Se é engraçado piada de gay e gordo, por que não é a de preto? Porque foram escravos no passado hoje são café com leite no mundo do humor? É isso? Eu posso fazer a piada com gay só porque seus ancestrais nunca foram escravos? Pense bem, talvez o gay na infância também tenha sofrido abusos de alguém mais velho com o chicote.
Se você acha que vai impor respeito me obrigando a usar o termo “negro” ou “afrodescendente” , tudo bem, eu posso fazer isso só pra agradar. Na minha cabeça, você será apenas preto e eu, branco, da mesma raça – a raça humana. E você nunca me verá por aí com uma camiseta escrita “100% humano”, pois não tenho orgulho nenhum de ser dessa raça que discute coisas idiotas de uma forma superficial e discrimina o próprio irmão.”

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Entendo o posicionamento dele. Entendo que ele não é nem pretendeu ser racista. Eu mesmo como português que sou, encaro as brincadeiras com portugueses no Brasil de forma tranquila. Quem me conhece sabe muito bem que sou o primeiro a brincar com isso.
Mas ainda acho que o comentário no twitter foi inadequado. Acho que realmente piadas e humor em relação a negros devem ser evitados publicamente. Esse tipo de piada pode ser feito com amigos que te conheçam, estejam em uma boa situação, saibam do seu pensamento, ou seja, amigos com quem vc tenha intimidade.
Agora publicamente e em especial com pessoas que vc não conhece, não é o correto. Explico-me.
Como o próprio Danilo admitiu a parcela da população que tem pele escura, foi discriminada por séculos e séculos e tida como uma raça separada e pior que isso inferior às demais. Foram escravizados, torturados, humilhados de todas as formas possíveis e imagináveis. As conseqüências desses atos ainda se fazem sentir nos dias de hoje. Pessoas de pele escura ganham comparativamente menos, têm trabalhos piores, são uma parcela pequena dos estudantes universitários, são tratados diferentemente pela polícia e instituições. Ou seja, o “ranço” cultural desse enorme sofrimento ainda se faz sentir.
O mesmo não acontece com outros grupos populacionais. Gays e Judeus, têm elevados níveis culturais e financeiros. Embora também seja necessário acabar com o preconceito no caso deles, acredito que o grupo que é considerado “negro” ainda está em uma situação que precisa de atenção. É por isso que precisamos sim tratar os negros de forma diferenciada. Ao menos por alguns séculos, até que esse terrível aspecto cultural seja neutralizado. Nenhum outro grupo passou o que eles passaram. Nem são vistos da mesma forma.
E é pior sim se chamar um negro de macaco do que um branco de girafa. Porque no caso do branco, isso é só uma brincadeira com aquela pessoa específica. Além disso, girafas não são teoricamente ancestrais do homem. Ao se fazer essa comparação, não se evoca nada além de uma brincadeira com uma pessoa que não é discriminada por ninguém.
Mas ao se comparar um negro com um macaco, várias idéias estão associadas. Está associado por exemplo o fato de se acreditar que este animal é um ancestral do homem, por isso está se chamando aquela pessoa de retardado, atrasado, animalizado. Está se associando também aquela pessoa a uma capacidade mental inferior. Portanto chamar alguém de macaco é também chamar de burro. É dizer que aquela pessoa está em uma condição inferior e fazer isso de uma forma sarcástica e intencionalmente cruel.
Não há intenção de crueldade em se comparar alguém com uma girafa e sim a intenção de fazer uma brincadeira saudável.
O que precisamos entender é que embora o autor deste texto encare isto como uma piada normal, assim como também eu encaro, muitas pessoas ainda têm influências culturais negativas que perpetuam o problema do racismo. Eu e vc leitor, podemos ler o comentário e rir sem maiores problemas de uma brincadeira que deveria ser normal. Mas uma grande parte das pessoas que lê este comentário, vai encontrar nele reforço para seu preconceito. E este é um preconceito enraizado por demais na sociedade que precisa ser combatido e não fortalecido.
Vamos todos auxiliar a que este terrível aspecto de nossa humanidade seja abolido o quanto antes. Vamos nos aproximar. Precisamos de uma humanidade em paz e sem preconceitos.

Invictus – Invencível

Estou querendo compartilhar um poema conheci há alguns anos, do qual gosto muito e considero bastante inspirador. Foi escrito pelo poeta inglês William Ernest Henley (1849–1903) em 1875.
Quando William tinha a idade de 12 anos, contraiu tuberculose nos ossos. A frágil saúde e a instabilidade financeira da família, faziam com que muitas vezes não comparecesse à escola. Alguns anos depois a doença progrediu e ele teve a perna esquerda amputada abaixo do joelho. Em 1867 entretanto passou nas provas da Universidade de Oxford como estudante senior. Ele é autor de diversas obras literárias, peças e poemas.
Espero que sirva para inspirar mais alguém assim como me inspira.
Leia-se ao som de Scotland the Brave

Out of the night that covers me
Black as the pit from pole to pole
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
Além da noite que me cobre
Negro como o poço de ponta a ponta
Eu agradeço a quaisquer deuses que existam
Por minha alma invencível
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody but unbowed.
Nas garras das circustâncias
Eu não me abaixei ou chorei alto.
Nas agressões da sorte
Minha cabeça está sangrando mas não abaixada.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.
Além deste lugar de fúria e lágrimas
Se apresenta apenas o horror da sombra
E entretanto a ameaça dos anos
Me encontra e me econtrará sem medo.
It matters not how strait the gate
How charged with punishments the scroll
I am the master of my fate
I am the captain of my soul.
Não importa quão estreito o portão
Quão cheio de punições esteja o pergaminho
Eu sou o senhor do meu destino
Eu sou o capitão da minha alma.

Consciência

Todos os textos que tenho publicado até agora são de minha autoria. Mas esse texto é de um colega de trabalho que o escreveu após alguns flames que levantei recentemente defendendo o software livre. Gostei tanto dele que resolvi publicá-lo aqui, com autorização dele.

O texto abaixo é apenas uma reflexão, um pensamento que me ocorreu e decidi compartilhar. Talvez seja apenas uma visão simplista.

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A ignorância é uma benção. Esta é uma das mais sábias frases já criadas. Todos os dias vejo ao meu redor um monte citações explícitas ou implícitas a este dito ou mesmo uma boa oportunidade para citá-lo.

Agora mesmo, pesquisando sobre a célebre frase me deparei com um blog impagável, leiam e saberão do que estou falando (http://chamberlaws.com/2008/07/a-ignorancia-e-uma-bencao.html). Lembrei também de ouvir uma frase de Hommer Simpson (sou fã do seriado): “Deus deve está muito ocupado: criando tufões ou não existindo”. Num outro episódio, Lisa, a menina inteligente e contestadora é tomada por uma forte depressão quando conclui que o mundo caminha para o caos. Lisa então toma “Ignoreitall” e passa a vê um mundo de carinhas seridentos.

Com relação ao grau de ignorância, eu vejo três tipos de pessoas:
1) O alienado: É representado aqui pela menina do comentário sobre Maria da Penha, ignora a realidade, prefere vê o mundo pelos olhos dos outros (televisão, moda, amigos). São pessoas felizes e envelhecem lentamente.

2) Parcialmente alienado: Pode ser representado pelo Hommer (apenas) da frase acima (normalmente Hommer é alienado), pode conhecer a realidade, mas não está nem ai pra ela, conforma-se. Não procura o conhecimento, mas pode adquiri-lo. Quando está diante de uma tomada de decisão prefere seguir a maioria para não sofrer. Odeia quem toma partido (crentes,
ecologistas, esquerdistas, vegetarianos, opensourcers, etc)

3) Engajado: É a Lisa sem “Ignoreitall”, preocupa-se com o mundo em vive, busca fazer sua parte e faz campanha pra “evangelizar” o próximo. Sente-se feliz por ter descoberto o nirvana, mas vive se defendendo da acusação (quase sempre justa) de ser chato. Vive em busca do conhecimento necessário para defender suas doutrinas, mas torcendo para não descobrir que está errado. Vive pouco e branqueia os cabelos precocemente.

Recentemente descobri que posso ser um engajado parcialmente alienado, basta tomar doses homeopáticas de “Ignoreitall”, assim posso eventualmente descobrir o nirvana e ao mesmo tempo andar e c@%&* para quem não me acompanhar.

Abaixo o neo-liberalismo!
Salve o planeta!
Opensource now!
Viva o linux!

Opa, hora do remedinho…

Emmanuel Ferro

Estradas

Quando vemos alguém com um comportamento religioso fanático, tendemos a nos sentir incomodados com esse comportamento. Isso leva a que nos distanciemos do caminho espiritual seguido por aquela pessoa. Ao fazermos isso naturalmente no aproximamos de outro mais adequado à nossa atual compreensão.

Religiões são estradas. Cada estrada leva a um destino. Uns mais perto, outros mais longe. Algumas pessoas não querem (ou não estão podendo ainda) caminhar por algumas estradas. Mas quando você pega uma estrada para poder chegar ao seu destino, tem que permanecer nela, porque se desviar demora mais pra chegar onde quer ir.
Acontece que a estrada é bem difícil para muitos. E para permanecer nela eles precisam se fanatizar ou não têm a força necessária para continuar no caminho. Aquele fanatismo demonstrado nada mais é que a busca da pessoa por força e firmeza.
Então o que cabe no caso de pessoas com “fé demais” é compreender a situação da pessoa, entender que ela está fazendo isso movida pelos seus melhores sentimentos e (caso se importe com ela) tentar auxiliar, devagar, com muito jeito e exemplo, a pessoa a chegar em uma estrada melhor e mais tranquila um pouco mais pra frente. Se a confrontamos fortalecemos o fantismo porque ela passará a nos considerar inimigos da sua fé.
O destino das religiões é a evolução espiritual. O que é evolução espiritual ? é conhecer o que existe além da matéria, mas é principalmente sermos capazes de melhorar aquelas coisas em nós mesmos que ficamos adiando e adiando. Conseguir permanecer calmo, conseguir ser mais produtivo, conseguir ser mais tolerante, conseguir ter mais fé, conseguir amar alguém, conseguir ter consciência da realidade do próximo e tantos outros.
Mas as falhas que temos são imperfeições da pessoa que necessita de um pouco mais de caminhada e disciplina (ou seja, seguir mais adiante pela estrada que escolheu) para melhorar.
Então, deixa o povo com a fé deles do jeito que é. Deus sabe o que faz e cria estradas para atenderem a compreensão de todos. Umas são mais adequadas a uns, outras a outros, mas todas levam a um só lugar: à evolução.

A quem possa interessar

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VAMOS LEMBRAR!

Hoje eu gostaria de lembrar a quem possa interessar que há mais ou menos 50 anos houve neste planeta uma revolução dos costumes, que mudou a forma de pensar da humanidade. Esta revolução não foi americana, brasileira, inglesa, européia, asiática ou de qualquer lugar ou povo. Foi uma revolução global e é chamada de Revolução Hippie ou Revolução c dos anos 60.
Ela trouxe para nossa época valores há muito esquecidos ou ignorados. Trouxe de volta a lembrança que nós estamos conectados à natureza, à espiritualidade e ao cosmos. Trouxe de volta a noção de que a aparência nada importa. O que realmente importa é o que levamos no nosso coração e na nossa memória. Com ela veio a contra-cultura, o experimentalismo, o poder da flor, novos sons, novas imagens, novas sensações e a liberação da terrível prisão sexual que nossos antepassados viviam. Veio também a noção de que o ser humano é livre para seguir o caminho que quiser. O resgate do que o homem sempre teve – seu livre arbítrio.
Com ela vieram a paz e o amor como bandeira maior, expressados no conhecido Símbolo da Paz acima. Muitos jovens lutaram, gritaram, morreram para que as guerras acabassem, para que os direitos humanos fossem respeitados, para que houvesse igualdade de direitos entre os sexos, para que houvesse liberdade de relacionamentos.
Com ela voltou à humanidade a noção de que nossa mente pode ser expandida nos dando acesso à realidade além da matéria. Talvez foi esse o ponto menos compreendido dela. E é justamente por não se saber na época como fazer isso, que só havia um caminho: experimentar. E é claro que para que se possa achar algo temos muitas vezes que andar por muitas estradas erradas até achar o caminho certo. Mas isso só prova o valor de quem caminhou. E caminhou muito e muito pra frente no pensamento, na expansão da mente, antes tolhida por arcaicos valores. E se caminhou muito pra frente na tolerância, na integração entre os povos, na forma de se ver a vida e no respeito a ela.
É por isso que me entristece muito o fato de ver que ainda hoje, 50 anos depois, ainda temos tantos e tantos seres humanos que, como diz a música, “ainda são os mesmos e vivem como seus pais”. Me entristece o fato de ver que nossos líderes ainda acham que pessoas precisam usar panos pendurados no pescoço para que “pareçam respeitáveis”. Como se o pano conferisse o poder especial da respeitabilidade. Quem dera o conferisse! Seria bem mais fácil. Mas infelizmente não é o caso. É triste ver como tantos anos após o pensamento da humanidade ter dado um salto de gigante, grande parte da humanidade ainda se apega a costumes tão idiotas como achar que existem seres humanos mais especiais que outros, ao ponto de alguns países pagarem a alguns poucos membros de seu país, fortunas incontáveis para que eles fiquem bonitinhos vivendo uma vida de luxo e esplendor só porque isso é uma “coisa legal que dá boas fofocas para os jornais” além de ser um “símbolo integrador da nação”. O que pode ser mais ridículo do que a história da Cinderela tornada realidade ? Até onde ainda pode chegar a exposição ao ridículo da nossa humanidade ? Até quando vamos dar valor a um líder, ou a outrem porque ele usa este ou aquele tipo de roupa, ou tem esta ou aquela aparência ? Se eu vou para uma encontro da ONU onde será debatido o destino dos povos, qual exatamente é a importância que tem a roupa que vou estar usando para o debate ? O debate é de propostas ou de moda ? Se estou em uma palestra de tecnologia, onde será apresentada uma nova solução para um problema e o palestrante quiser entrar lá e dar a palestra usando uma jaqueta de couro dizendo KISS ARMY atrás e uma maquiagem condizente, no que exatamente isso influenciaria em esta solução ser melhor ou pior ? Eu não consigo ver realmente qualquer relevância em terem que existir “aparências aceitáveis”.
Mas estamos melhorando, pois esta revolução veio para trazer “um novo tempo apesar dos perigos” e dos interesses. E um novo pensamento também. Onde visões diferentes do convencional tiveram e têm muito mais lugar. Onde a violência e atitude conservadora que sustenta o muro dos costumes (“The Wall”) deve ser superada e deve dar lugar ao diálogo e à tolerância. E esta revolução veio pra ficar, apesar do que muitos pensam e da estreiteza de visão em ver as conexões do que houve com o que somos hoje. Quem duvidar compare o que é a cultura livre de hoje (software, música, literatura, etc) com o pensamento hippie. Eu vejo inúmeras conexões entre ambos. E e este movimento de liberdade e cooperação na criação só tende a crescer. Está mais do que na hora de atualizarmos nossa forma de pensar para um pensamento moderno, mais vanguardista, menos fantasioso. Está na hora de dar o salto que já foi dado por tantos para que possamos realizar os sonhos maravilhosos que tiveram seu apogeu no verão de 69.
Para finalizar quero lembrar de uma música que ficou mais conhecida quando cantada pela inesquecível, maravilhosa, exemplo de mulher, chamada Joan Baez que tanto fez e faz pela causa da paz no mundo lembrando que

WE SHALL OVERCOME!

We shall overcome,
We shall overcome,
We shall overcome, some day.

Oh, deep in my heart,
I know that I do believe
We shall overcome, some day.

We’ll shall be all right,
We’ll shall be all right,
We’ll shall be all right, some day.

Oh, deep in my heart,
I know that I do believe
We shall overcome, some day.

We shall live in peace,
We shall live in peace,
We shall live in peace, some day.

Oh, deep in my heart,
I know that I do believe
We shall overcome, some day.

We are not afraid,
We are not afraid,
We are not afraid, TODAY

Oh, deep in my heart,
I know that I do believe
We shall overcome, some day.

We shall overcome,
Oh Lord, oh Lord
Overcome, some day.

Oh, deep in my heart,
I know that I do believe
We shall overcome, some day.

NÓS VAMOS SUPERAR!

Nós vamos superar
Nós vamos superar
Nós vamos superar, algum dia

Oh, bem fundo no coração,
Eu sei que eu realmente acredito
Que nós vamos superar, algum dia.

Nós ficaremos bem,
Nós ficaremos bem,
Nós ficaremos bem, algum dia

Oh, bem fundo no coração,
Eu sei que eu realmente acredito
Que nós vamos superar, algum dia.

Nós viveremos em paz,
Nós viveremos em paz,
Nós viveremos em paz, algum dia

Oh, bem fundo no coração,
Eu sei que eu realmente acredito
Que nós vamos superar, algum dia.

Nós não estamos com medo,
Nós não estamos com medo,
Nós não estamos com medo, HOJE

Oh, bem fundo no coração,
Eu sei que eu realmente acredito
Que nós vamos superar, algum dia.

Nós vamos superar
Ó Senhor, ó Senhor
Superar, algum dia

Oh, bem fundo no coração,
Eu sei que eu realmente acredito
Que nós vamos superar, algum dia.

Vídeo de Joan Baez cantando “We Shall Overcome” no Youtube
http://www.youtube.com/watch?v=RkNsEH1GD7Q

Praia de Iracema – Há que cuidar

Normalmente eu escrevo sobre idéias e temas genéricos. Mas hoje quero falar de um problema local e atual aqui de Fortaleza: A Praia de Iracema

Resido em Fortaleza desde 1999 e o dia que eu cheguei foi mesmo dia onde conheci o saudoso e maravilhoso Cais Bar. Desse dia em diante o Sá Filho e o Barry White são testemunhas que minhas visitas por lá eram muito freqüentes – várias vezes por semana. Esse foi um tempo maravilhoso. Todo o dia à tardinha o público, devagarzinho, começava a encher a Praia de Iracema, que ficava linda nos tons do pôr-do-sol. Casais caminhando de mãos dadas, famílias com suas crianças correndo, pessoas de todas as cores e todos os lugares do país e do mundo, passeavam por aquele corredor de barzinhos aconchegantes, com um povo acolhedor, sempre com um sorriso no lábios, amizade pronta pra ser cativada, bons papos, bons humores, boas paqueras, uma enorme diversidade cultural e musical e pra completar, ainda tinha o Pedacinho do Céu. Me lembro do Cais, do Brasil Regional, do Compasso, do Mincharia, do Pirata, do boliche e muitos outros. Quando chegava a noite, a luz dos refletores no mar mostrava os tons maravilhosos do mar do Ceará associado às luzes e o colorido das decorações das casas, o que criava uma mistura ímpar de pessoas, cores, formas, ondas e luzes que levarei comigo enquanto viver.

Este sempre foi um lugar de muitas histórias, muitos momentos marcantes na vida de tanta gente. Para mim marcou muito. Era como um refúgio para quem ainda não tinha muitos amigos na cidade. Conheci muita gente legal por lá. Era um dos lugares mais encantadores que eu já conheci, e entretanto, todas as histórias que ouvi, sempre disseram que o melhor tempo por lá foi lá por volta de 1992 a 1996. Imagino como terá sido. Fico com pena de não ter seguido um impulso que tive nessa época para vir conhecer esta terra.

Mas para o desgosto de muitos milhares de pessoas que lá passaram, aí veio a decadência. Mais ou menos em 2000-2001, as autoridades começaram a combater a alarmante prostituição na Av.Beira-Mar. Naquela época, haviam várias boates e bingos e o número de prostitutas era realmente muito elevado. Tradicionalmente este é um lugar de passeio de famílias, esportistas e turistas, além de um dos pontos mais lindos de Fortaleza. A presença das prostitutas realmente atrapalhava.

Segundo noticiado na mídia, foram então colocadas câmeras de vigilância para identificar os líderes e as prostitutas com o objetivo de removê-las de lá. Trabalho este muito bem feito e muito eficiente por parte das autoridades. A Beira-Mar realmente melhorou significativamente depois dele.

Só que esta não é a profissão mais velha do mundo à toa. Se as prostitutas não podiam ficar ali, é claro que elas vão pra outro lugar. E que lugar melhor do que outro ponto maravilhoso, perto de lá e com ótimos lugares para conhecer possíveis clientes ? Possivelmente ia ser melhor ainda.

E assim elas vieram. Começaram a chegar em peso, estando por todo lado por volta de 2002. Ainda me lembro de olhar uma menina na mesa me paquerando e quando cheguei até ela recebi o “olha eu faço programa” que não esperava. Outra vez me lembro de comentar com um amigo: “Olha que menina gatinha” e ele responder: “você realmente não conhece uma p*** quando vê uma né ?”. Não eu não conheço. Nunca gostei desse tipo de ambiente e me dá uma profunda tristeza saber que uma mulher, muitas vezes linda, um ser humano com a capacidade potencial de mudar o mundo, possa se achar tão incapaz que veja como sua única opção vender o corpo. Quando eu vejo uma mulher que se prostitui eu nunca vejo a prostituta, vejo a menina frágil, que chorou rios de lágrimas e viu tanto sofrimento até se transformar no que é hoje. Vejo as que não tiveram oportunidade de conhecer o lado mais elevado da vida devido a uma secular exploração da maioria por alguns, levando-a a se apegar ao que há de mais medíocre na vida. Vejo o terrível desprezo por sua terra natal, por ignorância, ao tentar achar homens de terras distantes para casar, porque não vêm possibilidade de sobrevivência aqui.

O fato é que quando prostitutas começam a freqüentar um lugar onde antes não existia prostituição a óbvia conseqüência é que as mulheres, para não serem confundidas com elas, vão embora. Quando as mulheres vão embora, os homens que não procuram prostitutas, as seguem, e aí ficam somente as prostitutas e quem as procura. Mesmo que tentemos olhar sem preconceito para um estilo de vida diferente do nosso, fica difícil aceitar que pessoas que procuram meninas de 13, 14 anos com intenção de pagar por sexo, possam trazer aspectos positivos para qualquer lugar. É notório que este tipo de público vem sempre acompanhado da marginalidade. E é esta mesma marginalidade que tem arruinado de forma devastadora o ponto mais bonito da cidade, um corredor cultural de fama nacional e internacional.

As causas dessa falta de cuidado com a Praia de Iracema são motivo de muitos comentários. Ouve-se falar de especulação imobiliária, interesse em manter o turismo sexual, falta de atuação das autoridades, entre outras. Para mim entretanto a impressão que fica é que esta falta de cuidado está sempre baseada na falta de sentimento do povo Fortalezense por sua terra. Este é um dos aspectos que mais estranhei quando vim para o Ceará. Quando aqui cheguei, vi uma terra linda, uma beleza de encher os olhos, com uma riqueza indescritível. E no entanto a impressão que tenho é que, por algum motivo, para quem é daqui, parece que a riqueza está sempre em outro lugar. Está mais do que na hora dos cearenses abrirem o olhos para a grandiosidade e riqueza de sua terra. Porque quando possuímos riquezas, temos que cuidar delas, ou chega alguém e as pega pra si. Este processo entretanto já começou faz tempo. Me lembro de ouvir um nativo em Jericoacoara dizendo que um estrangeiro dono de alguns terrenos, tinha fechado um lugar por onde eles sempre passavam e reclamado que Jericoacoara estaria quase toda na mão de quem não é de lá.

Vejo também hotéis e mais hotéis sendo construídos na beira da praia por quem é de fora em lugares incríveis e vejo os lugares mais esplendorosos serem vendidos a preços irrisórios.

Ô tristeza grande. Porquê, um lugar tão maravilhoso, uma beleza que enche o olhos e o coração do mais frio dos espectadores, não desperta um enorme sentimento de amor por seu povo ? Deveria. Deveria ser melhor cuidado.

Há que cuidar. Mais do que nunca, há que cuidar do que temos. Precisamos cuidar de nossa memória e de nossa história. É certo que a vida não é só seriedade e trabalho. Festas, diversão, conversas, reuniões, de amigos, música, são a alegria da vida. Mas para que esta alegria prospere há necessidade que este aspecto da vida seja limitado ao tempo que é adequado e que não nos esqueçamos de nossas responsabilidades e do trabalho que temos que realizar para preservar o que temos e avançar para novas etapas no futuro.

Então está mais do que na hora das autoridades Fortalezenses repetirem o excelente trabalho que fizeram na Beira-Mar em 2000-2001, desta vez na Praia de Iracema, para que possamos trazer de volta a nossas vidas a maravilhosa praia dos amores, praia das artes, praia dos encontros, praia da música, praia da alegria, praia do pôr-do-sol, Praia de Iracema.

Direitos humanos

Existe uma frase que já recebi algumas vezes por email que diz: “Direitos humanos são para humanos direitos”. Não concordo não. Direitos humanos são pra quem precisa. E em um grande número de vezes, quem precisa mais é quem não é tão correto.

É quando um ser humano chega à condição de cometer um crime, ou de estar na marginalidade que ele precisa ser tratado da forma mais humana possível. Não estou defendendo a impunidade. Estou defendendo que cabe à justiça uma punição justa, em pleno acordo com a lei.

Chega-se à condição de marginalidade, por muitos motivos ou por muitas justificativas às quais aquelas pessoas se apegam. E é ao sermos absolutamente corretos e éticos no tratamento dado a criminosos que mostramos que estamos alguns degraus acima deles e não vamos nos apegar às mesmas ilusões fantasiosas que fazem o criminoso praticar seus atos.

O que acontece é que nosso mundo não tá lá essas coisas. E ao nos deixarmos contaminar pela revolta dos atos errados praticados por outrem, corrompemos a nós mesmos. Cada vez mais alimentamos essa mesma revolta. E quando achamos um “alvo” para nossa revolta queremos que ele pague por toda ela. Mas o que cabe a quem comete um ato criminoso, não é pagar por todos os atos errados da humanidade. Cabe pagar unicamente pelo ato que cometeu. Quanto pior mais pesada deverá ser a sentença. Mas ele tem que pagar pelo que fez e SOMENTE pelo que fez e nada mais.

Então é justamente para frear essa “sede de vingança” que existem os direitos humanos. E eles devem sim defender os criminosos. Defender quem caiu em um erro muita vezes grave ou gravíssimo, de pagar por todos os outros erros de todos os outros seres humanos que chegaram a esta condição.

E quem é realmente capaz de afirmar com toda convicção que nunca cometerá um crime ? Quem sabe as circunstâncias que seremos obrigados a suportar na vida ? Será que não é possível que sob determinadas circunstâncias não acharíamos nós também motivos que a nós pareceriam justos para cometermos o mesmo ato deles ? Será que estes motivos pareceriam justos a todos, ou seríamos nós também nesse caso o alvo da revolta de alguém ?

O melhor então é buscar a calma. A tranqüilidade para lidar com situações difíceis. Porque é este o momento onde ela é mais necessária. E auxiliar a desenvolver esta mesma tranqüilidade em nós, para que não sejamos nós os próximos a precisar que os Direitos Humanos realmente funcionem.